Sinto
tanto a Tua falta. Agora. Neste momento. Pressinto no ar a ausência do teu
aroma, aquele que me enlouqueceu completamente a primeira vez que estivemos
juntos, bem como todas as outras vezes até ao momento em que desapareceste da minha
vida para sempre.
O
cheiro da tua ausência é amargo – um autêntico vazio de esperança, negro como a
noite em que disseste que ias embora. Mistura-se com a lembrança do sabor do
nosso último beijo, sabor de pastilha elástica de morango partilhada pelos
dois. Depois, o teu olhar, ligeiramente vesgo, disse-me tudo. Acabou. Falaste
algo, inventaste desculpas, mas o meu cérebro já tinha percebido que não havia
forma possível de voltarmos atrás.
A
que cheira o vazio, o sentimento de solidão, a ausência de esperança? Cheira a
maresia, ao sal das lágrimas que prometi não chorar – mas choro e continuo a chorar
– porque o ser humano tem uma capacidade imensa para sofrer, muito maior do que
a capacidade que tem para amar.
Quero sentir de novo o cheiro doce da
esperança, que cheira a crepes acabados de fazer, cobertos com doce de maçã, que
te costumava preparar nas manhãs de domingo; o cheiro do assado acabado de
esturricar enquanto fazíamos amor na sala; o cheiro inodoro do teu suor,
enquanto gritavas de prazer.
A efémera ilusão de te ter, cheirava a
canela e a café acabado de fazer, enquanto que a certeza de te ter perdido
cheira à podridão, causada pela morte do sonho do nosso futuro comum.
O não cheirar o teu perfume faz-me
desejar a morte – para quê viver se não o posso sentir? Não seguirei esse
caminho, prometi no vão da escada, onde nos falámos pela última vez. Mas se não
permites que morra, para quê continuar a sentir outros cheiros que não sejam o
teu? Ordeno, portanto, ao meu nariz, que não cheire absolutamente nada, que se
guarde até que encontre, de novo, quem valha a pena cheirar.
Autor: Jorge Santos
Texto 2 - 11º Campeonato de Escrita Criativa