terça-feira, 21 de agosto de 2012

O cheiro da Tua ausência


            Sinto tanto a Tua falta. Agora. Neste momento. Pressinto no ar a ausência do teu aroma, aquele que me enlouqueceu completamente a primeira vez que estivemos juntos, bem como todas as outras vezes até ao momento em que desapareceste da minha vida para sempre.
            O cheiro da tua ausência é amargo – um autêntico vazio de esperança, negro como a noite em que disseste que ias embora. Mistura-se com a lembrança do sabor do nosso último beijo, sabor de pastilha elástica de morango partilhada pelos dois. Depois, o teu olhar, ligeiramente vesgo, disse-me tudo. Acabou. Falaste algo, inventaste desculpas, mas o meu cérebro já tinha percebido que não havia forma possível de voltarmos atrás.
            A que cheira o vazio, o sentimento de solidão, a ausência de esperança? Cheira a maresia, ao sal das lágrimas que prometi não chorar – mas choro e continuo a chorar – porque o ser humano tem uma capacidade imensa para sofrer, muito maior do que a capacidade que tem para amar. 
Quero sentir de novo o cheiro doce da esperança, que cheira a crepes acabados de fazer, cobertos com doce de maçã, que te costumava preparar nas manhãs de domingo; o cheiro do assado acabado de esturricar enquanto fazíamos amor na sala; o cheiro inodoro do teu suor, enquanto gritavas de prazer.
A efémera ilusão de te ter, cheirava a canela e a café acabado de fazer, enquanto que a certeza de te ter perdido cheira à podridão, causada pela morte do sonho do nosso futuro comum.
O não cheirar o teu perfume faz-me desejar a morte – para quê viver se não o posso sentir? Não seguirei esse caminho, prometi no vão da escada, onde nos falámos pela última vez. Mas se não permites que morra, para quê continuar a sentir outros cheiros que não sejam o teu? Ordeno, portanto, ao meu nariz, que não cheire absolutamente nada, que se guarde até que encontre, de novo, quem valha a pena cheirar.



Autor: Jorge Santos
Texto 2 - 11º Campeonato de Escrita Criativa