Hoje
vou ser diferente: grafitar no céu a minha esperança; sorrir dos pensamentos
dos outros; tecer uma manta com os sonhos das crianças. Escutar, e perceber no
que escuto o que não dizes, e dizer tudo o que precisas ouvir, não o que quero
dizer. Ser diferente. Apenas. E só.
Hoje
vou beijar o chão que pisas. Porque não posso ser teu – já o sou, há muito
tempo, mesmo que ainda não o tenhas percebido. Portanto, anda por aqui, para
onde eu estou. E além disso, está mais limpo – o chão; e acolhedor – porque eu
estou cá.
Hoje
vou prender-te. Amar-te como queres ser amada, mesmo que nunca o tenhas dito –
deixa-me ler na tua pele o que desejas. Hoje. Sempre. Subir-te e voltar a
descer, numa montanha-russa onde cozinhamos a nossa felicidade – sem travões,
nem flaps, nem air-bags; choques frontais, puros e duros. Bons. Memoráveis.
Hoje
vou ser a tua diferença e indiferença. O teu riso e o teu choro. Como sempre:
tudo, da mesma forma que és tudo para mim, desde o ar que respiro ao calor que
me sufoca.
Hoje
vou pensar o impensável: não és. Depois lembro-me de te esquecer, para seres
simplesmente o que és: minha. Porque existimos. Os dois.
Hoje
vou ser amor e ódio. Dir-te-ei o que não queres ouvir, para depois ouvires o
que não te digo. Como é hábito, afinal, hoje, e sempre.
Hoje
vou, finalmente, fazer-te compreender a verdade: sou teu. E não sou, porque não
me compraste nem me ofereci. Estou do teu lado, seguimos viagem, juntos. A
estrada está cheia de buracos – mas é nossa.
Há
uma felicidade infeliz em tudo o que te costumo dizer, hoje vou satisfazer-te
um capricho. Mostra-te. Explica-te. Tenta-me. Faz.
Hoje
vou fazer silêncio, gritando ao mundo tudo aquilo que és, mesmo sem o saber.
A vida é feita de fragmentos que hoje
vou coser: ensina-me. O meu dedal, a linha e o tecido: és tu.
Autor: Jorge Santos
Texto 9 - 11º Campeonato de Escrita Criativa