Eu,
Facebook-dependente, me confesso.
Nos
tempos que correm, quando julgamos não haver tempo para sermos sociais,
recorremos ao Facebook e à nossa rede
de contactos, aos quais alguém teve a presunçosa delicadeza de chamar “amigos”.
Partilhamos fragmentos, mais ou menos interessantes, das nossas existências, na
corrente de um rio seco, onde apenas correm bits
e bytes. Se não formos ver o que
acontece, poderemos não ir a tempo de ver algo realmente interessante – já li uma comparação entre o facebook e um
frigorífico, ao qual estamos constantemente a abrir a porta para ver se há algo
diferente, mas onde raramente há. Em vez de o usarmos como forma de crescimento
pessoal, de contacto entre várias experiências de vida, fechamo-nos nos nossos
grupos herméticos, partilhando banalidades, autêntica “palha social”, como em
tempos uma amiga (e desta vez uma amiga a sério) referiu. Palha viciante, da
qual sentimos falta, como se de uma droga se tratasse.
Quero
parar, fazer um encontro à moda antiga, onde possa levar os álbuns das fotos
das férias (“o que é isso?”, perguntariam os meus filhos, não habituados a
manusear fotos); petiscar um bom queijo e um bom chouriço; beber um bom vinho;
jogar uma cartada a sério; sair para o quintal da casa e plantar algo vivo,
para variar; sentir o calor humano, bem longe dos Likes, dos LOL e dos Smiles.
Quero
parar e fazer isto tudo, mas ninguém tem tempo: devem estar todos no Facebook, suponho eu, a fazer algo de
muito (pouco) interessante.
Queres
saber quem são os teus amigos verdadeiros? Não precisas do Facebook para isso – ou pelo menos espero que não precises. Pega no
telemóvel e vê os contactos com mais chamadas. Esses devem ser os teus amigos.
Os mesmos que tinhas antes de começares a usar a rede social, e os mesmos que
tens agora, mais amigo, menos amigo. Os amigos verdadeiros não precisam do Facebook: são aqueles que sabem sempre que
algo está mal pelo que não publicas, que pressentem o teu estado de espírito
pelos teus silêncios.
Leio
o que acabo de escrever e sinto a estúpida necessidade de colocar um Like - tão viciado estou; depois abro o Firefox, digito http://www.facebook.com;
no preciso momento em que ia clicar no botão de “ir”, sinto o sol de fim de tarde
a bater nos estores e desisto - dou algum descanso ao Facebook, e vou fazer algo de realmente importante: jogar à bola
com o meu filho.
Autor: Jorge Santos
Texto 7 - 11º Campeonato de Escrita Criativa