sexta-feira, 1 de maio de 2015

Missão lunar

A notícia espalhou-se rapidamente pela Internet. Hoje em dia, já não há segredos, apenas mentiras por explicar. As pessoas, habituadas a duvidar dos rumores e das invenções sensacionalistas, não ligaram. Não podiam saber que, desta vez, a notícia era verdadeira: andava alguma coisa a passear na Lua. Logo o Presidente Obama ligou ao Presidente Putin. Os Russos também já tinham dado pelo estranho fenómeno. Seriam os Chineses, talvez. Mas estes logo disseram que a culpa era da Índia. Foi nesta altura que a notícia se tornou conhecida. Obama deu uma conferência de imprensa, indicando não haver razões para temer qualquer ameaça – havia que apagar a ideia implantada por dezenas de anos de filmes de invasões de extra-terrestres.

Logo o mundo entrou em sobressalto. Houve tumultos em diversos países, manifestações de comunidades religiosas, suicídios em massa. No meio da histeria, foi decidido fazer a única coisa possível: enviar uma missão à Lua. Prepararam uma sonda, que aterraria na sua superfície. Foram congregados esforços. Por momentos, esqueceram-se as tensões que se tinham vindo a agravar nos últimos anos. Diversas nações trabalharam em conjunto e, em tempo recorde, estava tudo pronto para enviar a sonda, criada com tecnologia japonesa e europeia, num foguetão americano. O mundo assistiu à partida do foguetão e, depois, ficou à espera.

Na Sala de Controlo, em Moscovo, um grupo de homens de diversas nacionalidades monitorizava cada aspecto da missão. A cápsula contendo a sonda demorou 3 dias para chegar à Lua. Vinha agora a parte mais crítica da missão: a alunagem da sonda, que aconteceu conforme planeado. Dotada de seis pequenas rodas, a sonda percorreu, então, o caminho até ao local onde tinha sido detectado o fenómeno. Na Sala de Controlo, a atmosfera era tensa. O mundo esperava, ansiosamente, por novidades. Na televisão davam reportagens diárias, teciam-se conjecturas, cada uma mais ridícula que a outra. Por todo o lado, aconteciam cerimónias religiosas e suicídios em massa. Por todo o lado, do Ocidente ao Oriente, do Norte ao Sul, estavam todos atentos, única e exclusivamente, a um pequeno veículo que fazia um lento trajecto de uns míseros quilómetros na Lua.

Quando Rob White, na Sala de Controlo, começou a ver as primeiras imagens transmitidas pela sonda, não podia acreditar no que via. Um cientista russo, a seu lado, começou a rir. Uma senhora de nacionalidade francesa exclamou: “C’est pas possible!”. Um físico alemão, de nome impronunciável, comentou apenas: “Es ist wahr!” (É verdade!). “E agora?”, perguntou Rob White. Os líderes mundiais deviam ser avisados antes da notícia ser espalhada por todo o mundo. Sinceramente, ele não sabia qual iria ser a reacção. 

Em videoconferência com os principais líderes, um grupo de cientistas mostrou o vídeo que a sonda tinha gravado. Obama, cuja reacção estava entre o divertido e o maravilhado, perguntou apenas: “Portanto, devo concluir que não estamos sós no universo e que o perigo de ameaça é nulo?” Rob White confirmou. Houve depois uma troca de palavras entre todos. Rob notou que antigas tensões regressavam. Por fim, todos concordaram que as imagens poderiam ser divulgadas. O cientista duvidou desta medida, mas, depois de terminada a reunião, informou os colegas, sendo imediatamente preparada uma apresentação. 

Foi com espanto que o mundo viu as imagens da sonda. Nela aparecia apenas um rapaz, que andava na superfície da Lua. Ele aproximou-se da câmara da sonda, esboçou um sorriso e acenou. 
Afinal, o pequeno príncipe de Saint-Exupéry sempre existia.

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