segunda-feira, 18 de maio de 2015

Os homens medem-se às palmas

Dizem que os homens não se medem aos palmos – mas se o fizessem, Peter não mediria muitos palmos. Filho desejado de uma família de ascendência alemã e irlandesa a residir nos Estados Unidos, cedo os pais descobririam que o filho sofria de um problema que lhe afectava o crescimento normal dos membros. O seu nome técnico é Acrodonplasia. Na prática, isso significava que Peter seria anão, com todos os problemas que acarreta a vida de um anão numa sociedade que tudo formata, desde o tamanho da fruta às convicções pessoais e, claro está, ao aspecto físico. 

Peter viveu a sua vida afectado por este problema, encerrando-se no seu próprio mundo. Tornou-se actor, algo bastante comum para quem se encerra no seu próprio mundo, como se os palcos e as câmaras fossem os instrumentos para exorcizar a claustrofobia. No seu primeiro trabalho no cinema, retrata-se a si próprio: um anão farto de seguir os arquétipos dos trabalhos habituais de anões. 
Um metro e trinta e cinco centímetros de gente, uma voz estranhamente potente. Um actor dotado. No final, só isto interessa: o talento. Não interessa a altura, a cor da pele ou as convicções pessoais. Ou temos talento, ou não temos. Não há nada de mágico nisso. Ou talvez haja. É essa a nossa verdadeira magia interior: sobressairmos quando menos se espera. 

E Peter sobressai. Ele é Tyrion Lannister em Game of Thrones. O filho de uma das famílias mais poderosas, um papel que lhe assenta especialmente bem, dado que ele próprio é descendente de uma família da aristocracia germânica. Como Tyrion, ganha o papel de melhor actor. Os homens não se medem aos palmos - medem-se às palmas que recebem.

Sem comentários:

Enviar um comentário