O Sonho
P
|
enso que
dormes. Penso que durmo. Confundo sempre o sonho com a realidade, quando estou
Contigo. A música envolve-me. Ninguém a ouve. Só eu. E tu. São músicas
diferentes, sempre foram; até ao momento em que a ouvimos juntos. Olho para ti.
Penso que dormes. Ou brincas, como é teu hábito. Mesmo assim ouço a tua música
no contorno suave da tua pele. O leve sorriso revela-te. O olho abre-se.
Contempla-me. Sequioso. A música sobe de tom. Toco-te. O mundo desaparece. Só
existimos os dois, num abraço, pele com pele, carne com carne. A junção
perfeita, ou mais que perfeita. Nada mais existe: és a minha pele, sou a tua
carne, o mundo é irrelevante: não existe. O único som que ouço é o da nossa
música. Os acordes perfeitos ao acordar. Todos os dias diferentes. Nossos. Não
existe mais nada quando eu estou em
ti. Nem tu, nem eu. Somos nós. Prolongamos o prazer muito
para além do prazer, para não sentirmos, tão cedo, a irrelevância dos corpos,
que um Deus cruel separou à nascença e que desejam estar sempre juntos.
Ou terei
sonhado? Olho para ti.
Penso
que dormes.