terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Rapto no presépio


O burro acordou com um tumulto anormal dentro da caixa. Estava escuro, mas  todas as figuras dos presépios conseguiam ver bem no escuro, à força de ficarem fechadas todo o ano para brilharem em toda a sua glória durante o último mês do ano. A um canto da caixa, a Virgem Maria chorava, S. José tentava reconfortá-la. Alguns pastores observavam o chão e o tecto e comentavam ter visto uma luz e que ele tinha desaparecido. E o burro, que não era burro nenhum e que até tinha andado na Sorbonne (no presépio da Sorbonne, entenda-se, mas isto ele não suficientemente burro para revelar aos outros), disse: “Deve ter sido raptado por Extra-terrestres!”
Esta afirmação aumentou ainda mais o volume do choro da Virgem Maria. Um dos Reis Magos aproximou-se do burro montado no seu camelo, de cima do qual nunca podia sair. “Não sejas parvo…para que é que os extra-terrestres queriam uma figura do presépio?”
O Burro olhou para ele, pensou um bom bocado e depois exclamou: “Eles devem ter roubado todos os meninos Jesus de todos os presépios do mundo!”
Um dos outros Reis Magos, que estava deitado no chão da caixa disse a coisa mais inteligente que podia ser dito: “E para quê?”
O burro encolheu os ombros, ou teria encolhido os ombros se o pudesse fazer. Passou por cima de uma ovelha que contava uma anedota a outra ovelha. Sabia que era uma anedota, porque as duas se riram, mas ninguém sabia a sua linguagem. Para o burro, eram as criaturas mas burras do presépio.
O terceiro Rei Mago olhava para o tecto da caixa. “Se não houver menino Jesus, este ano não sairemos da caixa…sem ele não há presépio,”
“Mascaramos o burro de menino Jesus”, gracejou um dos pastores. Os outros pastores riram-se, mas depois calaram-se quando perceberam que mais ninguém tinha achado piada.
Estiveram vários dias a discutir o desaparecimento do menino Jesus, até que o tecto se abriu e uma mão começou a tirar cada uma das figuras da caixa, deixando o burro para o final. Quando chegou a sua vez, a mão pegou nele com toda a delicadeza e colocou-o no presépio, absolutamente esplendoroso como todos os anos. No meio estava, para espanto do Burro, o menino Jesus, que tinha todo o aspecto de ter sido pintado de novo e reparado.