Nunca deixar morrer o sonho é o
primeiro passo para sermos felizes. Mesmo que o mundo dos outros nos berre e
nos deixe sozinhos no caminho, com um rasto deixado pelos nossos erros e
fragmentos dos sonhos perdidos. Somos nós que desenhamos o horizonte do nosso
mundo e prendemos as amarras aos mundos dos outros, aqueles que vemos construir
os seus mundos pessoais à distância e que nos enriquecem a existência.
Nasci com o meu mundo vazio,
impoluto, com uma única e grande amarra a ligar-me ao ser que me deu a vida,
uma corda de titânio indestrutível, construída ainda no seu interior, quando
compúnhamos uma única pessoa. Depois de nascer, construí outra grande ligação.
Do meu pequeno mundo observava os seus dois mundos, ligados também entre si por
uma amarra, mais ou menos estável, que se renovava diariamente. Desde o
primeiro momento comecei a construir o meu mundo, observando e aprendendo como os
meus pais cuidavam e melhoravam os seus próprios mundos pessoais, ajustando os horizontes
em função da minha existência.
Durante a infância construí montes
e planícies, neste meu mundo pessoal, fazendo um lento percurso através deles,
percurso esse que ainda hoje continuo. Ao longo da caminhada, neste solo de
areia macia com partes dolorosas de granito cortante, construo as amarras aos
mundos de familiares e de amigos que entram e saem da minha vida, deixando
sempre algo deles próprios como rastos de amarras antigas. Nesta altura começo a
definir os meus horizontes, sempre muito altos. Com a idade, aprendo a baixá-los.
Já não sonho ser astronauta, quero ser médico. Depois, quando os sonhos começam
a perder-se, dissolvidos pela crueza da realidade, baixo ainda mais os
horizontes. Ou melhor, aprendo a elevá-los: quero apenas ser feliz e germinar novas
amizades, infinitamente sólidas e enriquecedoras. Os seus mundos brilhantes
gravitam ao lado dos pequenos mundos individuais dos animais de estimação que
me rodearam e rodeiam: o dos cães tem no centro uma árvore e um terreno para
escavar; o dos gatos tem apenas um novelo de lã e uma caixa de cartão vazia. As
suas amarras são fortes, duras como o aço e perduram muito além da sua vida.
Podemos desistir dos nossos
sonhos e ambições. Passar a viver apenas pelo gosto da caminhada, nos nossos
mundos pessoais, apreciando cada passo de uma forma quase orgásmica. O que não
podemos é deixar de caminhar, mesmo que já não tenhamos força nas pernas.
Nunca.
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