quarta-feira, 24 de julho de 2013

Texto 6

Porque a solidão existe. Perfura-nos. Congela-nos num estado embrionário, granítico. É como uma casca que nos envolve e que só a vontade dos outros pode quebrar. A tua vontade. A tua existência. A tua imagem. Simples, deslumbrante. Cada gesto com que rasgas suavemente o ar, sinto que é para mim. O meu teatro pessoal, onde és a actriz principal de uma peça que eu sempre esperei – nela representas para mim, só para mim, em todos os dias em que te vejo, e também nos outros em que só habitas os meus sonhos. Só tu existes. Que se cale o mundo cego que só vê as diferenças, quando eu nem o tempo sinto quando estás perto. Que interessa se nasci antes, se nasci para te embalar a alma e te fazer rir e te limpar as lágrimas. Anda. Apanhemos o sonho das 7h30. Não, é muito cedo: gostas de dormir até tarde. Será antes o das 11h15, o dos bancos forrados a veludo. Levamos os nossos livros. Não. Não precisamos de livros: eu leio-te, e tu lês-me. Só o teu livro me interessa. Não me interessam os poemas, quando o meu poema és tu, a rima incerta que invade o meu mundo e me rompe a casca dessa solidão onde me escondi, onde me escondo de um mundo que já não percebe nada de amor, apenas da confusão dos corpos. Porque o amor puro é a minha única dádiva, sincera e absoluta. És tu. Sempre foste. Espalho o que sinto num rectângulo de papel A4. Imaculado. Como tu.

Sem comentários:

Enviar um comentário