Afundo-me lentamente num buraco. É
essa a sensação que tenho: preso a mim próprio, longe de tudo, com vontade de
me afastar do que sou. Nada me interessa. O horizonte parece-me longínquo. Lá
fora o sol pode brilhar para os outros, mas cá dentro o escuro impera,
prende-me os movimentos e a alma. Não importa os motivos que me prenderam aqui,
no meu buraco pessoal. É meu. Cuscos! Se quiserem ter o vosso buraco pessoal,
esqueçam os vossos sonhos, anulem os vossos objectivos de vida, as casas, os
carros e o dinheiro. Deitem fora os contactos dos amigos e regulem a vossa
auto-estima para o nível mínimo. Ou melhor, desliguem-na. Tornem-se
espectadores, inconfortavelmente sentados, das alegrias alheias, enquanto escavam
lentamente o vosso próprio buraco pessoal. Aquele em que se enterraram em vida,
sem terem direito a flores, aquele em que se isolaram do mundo exterior, sem
repararem que o mundo exterior é, na realidade vocês, convencidos que são os
restos da sociedade.
Querem saber como sair do buraco em
10 lições?
Cá vai:
Lição número 1: não existe buraco. Também não
existem pessoas que sejam 100% felizes. Quando muito podem esforçar-se muito
para o parecer. Todos têm os seus problemas, até o homem mais rico do mundo os
tem. Aprende a viver com esses mesmos problemas, mas nunca pares de sonhar.
Procura o teu lugar no mundo. Aprende uma coisa diferente todos os dias, até
encontrares aquilo que te faz feliz e dedica-lhe todas as tuas forças, sempre
com a noção de que vão existir sempre problemas. Rodeia-te de bons amigos, que
te compreendem e te aliviam a carga. Liberta-te de tudo o que está a mais na
tua vida. Ama. Ama com fartura. O coração é mais inteligente que o cérebro, e
sabe bem o caminho que pretendes. Escuta-o e procura quem o queira escutar. Não
encontrarás a felicidade no teu buraco pessoal, mas pode ser que a encontres dentro
do buraco pessoal de outras pessoas que tenham, também elas, reduzido
dramaticamente o seu nível da auto-estima. Ajuda-as a ser feliz. Porque a auto-estima
tem esta coisa curiosa: alimenta-se da auto-estima das pessoas que te rodeiam,
e cresce quando as fazes felizes.
Lição Número 2: não existem mais lições. Ninguém
te vai ensinar a ser feliz, muito menos um texto parvo como este. É um caminho
que tens de percorrer a solo, sempre com o ouvido no coração (recomendo um
estetoscópio, um curso avançado de Yoga ou alguém com bom ouvido que te queira
acompanhar – dá sempre prioridade a esta última opção). Sempre que precisares
de mais textos parvos para te aliviar o percurso, eu estarei aqui, sentado
inconfortavelmente no meu buraco pessoal.