quinta-feira, 27 de março de 2014


Desafio de Escrita 2
Tema Nº1: O comboio parou na estação e ele saiu.
Tema Nº2: Não tardes: deixei o Amor em lume brando.



O comboio parou na estação e ele saiu. Não ia apressado. Parou para fumar um cigarro. Olhou para ambos os lados da gare, como se estivesse na dúvida para onde ir. Não era de ali. Ela via isso na forma como vestia, como se a aventura fosse a sua forma de vida, a pele bronzeada. Pela cor clara dos cabelos, podia antever olhos igualmente claros, escondidos por trás de uns egoístas óculos escuros. Vem para este lado, pediu ela, aninhada no banco da estação, encostada à parede. Segurando na ponta dos dedos o livro que fingia ler entre os joelhos. Não estava ali mais ninguém. As pessoas que tinham saído do comboio tinham ido às suas vida. As pessoas que tinham entrado no comboio também tinham seguido viagem, ela estava-se a borrifar para onde. Parecia-lhe que só eles os dois não precisavam ir a nenhum lado. Sentimento estranho, para quem nunca teve certezas na vida. Vem para este lado, pediu ela. Ele virou-se para ela, que subitamente sentiu que tinha mudado de cor. Sentia as faces subitamente a escaldar. Anda, pediu ela. Não tardes. Ele aproximou-se dela, a um passo lento, cauteloso, o significado óbvio de quem procura. Ávido. Silencioso. Sentiu-lhe a ânsia. És meu. Quero ser tua. Sem receios, dúvidas ou hesitações. Ele continua a aproximar-se.


O comboio parou na estação e ela saiu. A outra. Aquela que lia apercebe-se da mudança na velocidade no andar dele e, na felicidade estampada no rosto, vê que não tem outro remédio senão mergulhar no livro e arrefecer o Amor que tinha já em lume brando. 


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